Fofoca-se que, na definição do setlist do show histórico que reuniria no mesmo palco, após duas décadas separados, os integrantes da formação canônica do Pink Floyd, Roger Waters quis que a banda tocasse o clássico "Another brick in the wall". David Gilmour vetou, cônscio do tremendo desrespeito: como cantar "We don't need no education" ("Não, nós não precisamos de educação") no Live 8 (2005), um ato humanitário grandioso em favor da África, onde o baixíssimo índice de escolaridade era (e continua sendo) apenas um dos números indigestos do Continente?
Desde a juventude, Roger Waters é metido a socialista. Ainda hoje a pose não parece ter mudado em nada, à revelia do salto - muitíssimo mercadológico - de riqueza do músico britânico. No período em que assumiu a liderança do Pink Floyd, com o afastamento de Syd Barrett, o baixista gostava de criticar Gilmour, acusando-o de só se interessar em criar seus magníficos solos de guitarra e pegar mulher. O guitarrista, na repreensão do cérebro inquestionável da banda, não se entusiasmava com o lado conceitual, ideológico, de crítica social tão nítido nos álbuns Animals (1977), The wall (1979), The final cut (1983) e outros. Em vez disso, preferia valorizar... a música.
A propósito, em um de seus rasgos antológicos de ironia tão cruel quanto sensata, Friedrich Nietzsche questionou compositores como Richard Wagner que almejavam, a todo custo, convencer de que eram mais do que compositores, deixando entrever nessa atitude o quão em pouca ou má conta teriam a música somente música.
Mas também é estranho o socialismo de Roger Waters, socialismo que, de qualquer forma, não deixa de ser o espécime de uma espécie. A narrativa da genial ópera-rock The wall, por exemplo, de sua quase inteira autoria, alegoriza (não só isto, claro) o solipsismo dele mesmo, sua confessa dificuldade em interagir no palco com o público, a ponto de, diante dos aplausos mais estrepitosos a Eric Clapton do que ao já ex-Pink Floyd, não ter se contido em inveja: "Ah, sim... o grande Eric Clapton."
A lista desses gestos sugerem (não sugerem?) que o socialismo de Waters, se implementado, nos levaria ao fascismo que o próprio baixista critica em The wall, valendo ressaltar que fascistas não foram apenas Mussolini, Hitler, Franco e Salazar, com seus governos de direita, mas também Stalin e Fidel, com suas ditaduras de esquerda. Que outra interpretação hipotética teríamos de tamanha insensibilidade, rejeição e intolerância frente ao outro - da miséria do outro ao sucesso do outro?
No fim das contas, o burguesinho e pegador David Gilmour, a nódoa capitalista do Pink Floyd, sempre foi o mais atento aos direitos autorais devidos a Syd Barrett, guitarrista destruído pelas drogas a quem substituiu na banda, e muito mais sensível às mazelas dos africanos.
Desde a juventude, Roger Waters é metido a socialista. Ainda hoje a pose não parece ter mudado em nada, à revelia do salto - muitíssimo mercadológico - de riqueza do músico britânico. No período em que assumiu a liderança do Pink Floyd, com o afastamento de Syd Barrett, o baixista gostava de criticar Gilmour, acusando-o de só se interessar em criar seus magníficos solos de guitarra e pegar mulher. O guitarrista, na repreensão do cérebro inquestionável da banda, não se entusiasmava com o lado conceitual, ideológico, de crítica social tão nítido nos álbuns Animals (1977), The wall (1979), The final cut (1983) e outros. Em vez disso, preferia valorizar... a música.
A propósito, em um de seus rasgos antológicos de ironia tão cruel quanto sensata, Friedrich Nietzsche questionou compositores como Richard Wagner que almejavam, a todo custo, convencer de que eram mais do que compositores, deixando entrever nessa atitude o quão em pouca ou má conta teriam a música somente música.
Mas também é estranho o socialismo de Roger Waters, socialismo que, de qualquer forma, não deixa de ser o espécime de uma espécie. A narrativa da genial ópera-rock The wall, por exemplo, de sua quase inteira autoria, alegoriza (não só isto, claro) o solipsismo dele mesmo, sua confessa dificuldade em interagir no palco com o público, a ponto de, diante dos aplausos mais estrepitosos a Eric Clapton do que ao já ex-Pink Floyd, não ter se contido em inveja: "Ah, sim... o grande Eric Clapton."
A lista desses gestos sugerem (não sugerem?) que o socialismo de Waters, se implementado, nos levaria ao fascismo que o próprio baixista critica em The wall, valendo ressaltar que fascistas não foram apenas Mussolini, Hitler, Franco e Salazar, com seus governos de direita, mas também Stalin e Fidel, com suas ditaduras de esquerda. Que outra interpretação hipotética teríamos de tamanha insensibilidade, rejeição e intolerância frente ao outro - da miséria do outro ao sucesso do outro?
No fim das contas, o burguesinho e pegador David Gilmour, a nódoa capitalista do Pink Floyd, sempre foi o mais atento aos direitos autorais devidos a Syd Barrett, guitarrista destruído pelas drogas a quem substituiu na banda, e muito mais sensível às mazelas dos africanos.