sábado, 9 de março de 2019

Professor de discriminação?

Depois de ter ouvido falar de uma faculdade de surf no Havaí e de um curso de cumprimento brasileiro no Japão, eis que descubro esta semana que há um professor de discriminação no Brasil. A que ponto chega o anseio contemporâneo por liberdade e democracia... Discrimine quem pretenda discriminar sob a autoridade de um diploma e depois aguente as consequências!

Obtive a informação curiosa nas Páginas Amarelas da revista Veja de 27 de fevereiro, que entrevistaram o docente da Fundação Getúlio Vargas Thiago de Souza Amparo, na verdade identificado como professor de discriminação e diversidade. Mas parece que dá no mesmo.

Pois não é que à pergunta "Por que o fato de uma mulher branca usar turbante causa repulsa em muita gente?", o entrevistado responde que:

"[...] O questionamento se dá pela apropriação cultural. Temos de entender que referências como o turbante não são adereços e a apropriação cultural é danosa quando não tem nenhuma conexão com a ancestralidade. Negro não é fantasia."

Na condição de aluno meio burro, eu levantaria a mão e, uma vez permitida a intervenção, perguntaria ao professor de discriminação: em quais momentos da história humana não tivemos apropriação cultural, professor de discriminação?

Pobres italianos... Cientes dessa genial possibilidade acusatória, os chineses já se preparam para processá-los pela apropriação cultural - danosa, está claro - do macarrão. Os gregos, clamando por reparação histórica, também devem acionar a justiça internacional por a mitologia romana quase nada mais ser do que uma apropriação cultural - danosa... danosa também! - da mitologia grega. E por que não, consideram os judeus, protestar contra os cristãos, que se apropriaram culturalmente do que eles danosamente denominam de Antigo Testamento? Nessa deve sobrar de novo para o pessoal da Itália, onde, afinal de contas, se situam Roma e o Vaticano.

Sem querer ser impertinente, levantaria o dedo outra vez e perguntaria ao professor de discriminação: de que maneira a apropriação cultural, meu Zeus do céu, é danosa? Uma mulher branca usa um turbante, uma mulher negra alisa o cabelo, um piauiense toma chimarrão, um adolescente brasileiro inventa de só vestir kimono e um descendente de árabes de torcer para o Bayern de Munique... Tanta apropriação cultural deve resultar no Apocalipse, certo? (Se é que João me permite a apropriação cultural de seu livro.)

Professor de discriminação, em nome da diversidade, me conceda diversas perguntas, por gentileza: E se um negro veste terno, camisa social e gravata, isso pode? Se um branco manifestar repulsa por esse gesto de apropriação cultural, ele estará errado? Ou branco é fantasia? Ou o professor de discriminação indicaria a esse hipotético homem negro a leitura da passagem abaixo, extraída da apresentação do número 1 dos Cadernos negros do grupo paulista Quilombhoje:

"Estamos no limiar de um novo tempo. Tempo de África, vida nova, mais justa e mais livre e, inspirados por ela, renascemos arrancando as máscaras brancas, pondo fim à imitação. Descobrimos a lavagem cerebral que nos poluía e estamos assumindo nossa negrura bela e forte. Estamos limpando nosso espírito das ideias que nos enfraquecem e que só servem aos que querem nos dominar e explorar."

"Apropriação cultural"... esse conceito me cheira a Mein Kampf, me cheira a Hitler acusando os judeus de apropriação cultural ariana. O senhor, professor de discriminação, vai me desculpar, entendi errado a ementa da disciplina. Pensei que fossem aulas para me instruir contra a discriminação. Prefiro aprender com Manuel Bandeira, que nos ensina:

ABAIXO OS PURISTAS.  

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