O politicamente correto de nossa atual pedagogia hegemônica torce o nariz para o ensinamento da célebre fábula da cigarra e das formigas, apologia do esforço próprio e da responsabilidade diante do futuro - valores execráveis (não é mesmo?) da sociedade burguesa, que, retratada nessa pequena narrativa, glorifica o trabalho incansável e pune quem somente se preocupou em cantar. Pois a interpretação mais torta do que o nariz daqueles que a emitem e defendem compreende a fábula como um ataque à arte e à liberdade... e argumentam que o canto é, sim, socialmente importante. Mas a lição moral não o contesta; a punição da cigarra não decorre de ela ter cantado, decorre de ela só ter cantado, e não ter trabalhado nadica de nada. Talvez fosse o caso de conceder ao inseto cantor uma bolsa, cujo valor seria extraído da mera bondade justiceira do governo?... ou do produto dos insetos trabalhadores?
Olavo Bilac (1865-1918), poeta não genial (é verdade), porém consciente de que a boa arte é fruto de quem "trabalha, e teima, e sofre, e sua", não se constrangeu nenhum pouquinho em afirmar que as formigas operosas consistem em exemplo superior para uma nação que se quer, de fato, próspera. E se fez de cigarra lúcida para as crianças nos versos abaixo:
"As formigas"
Olavo Bilac (1865-1918), poeta não genial (é verdade), porém consciente de que a boa arte é fruto de quem "trabalha, e teima, e sofre, e sua", não se constrangeu nenhum pouquinho em afirmar que as formigas operosas consistem em exemplo superior para uma nação que se quer, de fato, próspera. E se fez de cigarra lúcida para as crianças nos versos abaixo:
"As formigas"
Cautelosas e
prudentes,
O caminho
atravessando,
As formigas
diligentes
Vão andando, vão
andando ...
Marcham em filas
cerradas;
Não se separam;
espiam
De um lado e de
outro, assustadas,
E das pedras se
desviam.
Entre os calhaus
vão abrindo
Caminho estreito e
seguro,
Aqui,
ladeiras subindo,
Acolá, galgando um
muro.
Esta carrega a
migalha;
Outra, com passo
discreto,
Leva um pedaço de
palha;
Outra, uma pata de
inseto.
Carrega cada formiga
Aquilo que achou
na estrada;
E nenhuma se
fatiga,
Nenhuma para
cansada.
Vede! enquanto
negligentes
Estão as cigarras
cantando,
Vão as formigas
prudentes
Trabalhando e
armazenando.
Também quando
chega o frio,
E todo o fruto
consome,
A formiga, que no
estio
Trabalha, não
sofre fome ...
Recorde-vos todo o
dia
Das lições da
Natureza:
O trabalho e a
economia
São as bases da
riqueza.
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